A 6.ª Edição do Festival de Jardins Escolinhas de Ponte de Lima prevista para 2020, sob o tema “As Religiões nos Jardins”, ficou marcada pela Pandemia da COVID-19. No momento em que iniciei a redação do presente texto, surgiam os primeiros casos confirmados de infeção pelo SARS-CoV-2 (coronavírus) em Portugal. Naturalmente, como viria a suceder com quase tudo, houve lugar à suspensão dos trabalhos associados ao Festival de Jardins Escolinhas.

Passado um ano, em que a vida em sociedade, tal como sempre a conhecemos e vivenciámos, mudou por completo, continuamos ainda a sentir os efeitos desta Pandemia, sendo que, no entanto, com a enorme diferença que resulta de ter sido já iniciado o plano de vacinação.

A vacina, produzida em tempo recorde, trouxe, por um lado, um novo alento, sobretudo aos profissionais de saúde que, permitam-me a expressão, de forma heroica, tudo têm feito para minimizar aqueles que se constituem como os números mais negros que resultam desta pandemia. Será ainda da maior justiça referenciar o conjunto de entidades e de pessoas que, a nível institucional ou individual, tudo têm feito para prestar auxílio aos nossos concidadãos que, por vicissitudes várias, com especial relevância para as sérias dificuldades económicas, foram, são e serão afetados, direta ou indiretamente, por esta pandemia.

Por outro lado, a vacina, é também sinónimo de uma enorme esperança. Como todos há muito desejávamos, é agora possível crer que, em breve, “Vai Ficar Tudo Bem”.

A esperança e a crença, procurando aqui fazer a ligação ao tema “As Religiões nos Jardins”, são pontos em comum entre as várias religiões ao contrário de outros, como sejam, por exemplo os seus símbolos, figuras e orações, cuja diversidade se encontra bem patente nas maquetes dos jardins das escolas que participarão na 6.º Edição do Festival de Jardins Escolinhas.

A propósito de figuras religiosas, com vista a estabelecer a ponte com um dos grandes objetivos dos Festival de Jardins, a sensibilização para os problemas ambientais com que o planeta Terra se debate, transcrevo duas frases, relativas à Pandemia da COVID-19, da autoria do líder mundial da Igreja Católica Apostólica Romana, Sua Santidade o Papa Francisco. A primeira, proferida a 25 de março de 2020, com a Praça São Pedro completamente vazia, integrada numa mensagem que parece estar associada ao desenvolvimento desregrado e repleto de desigualdades, que tem sido seguido nas últimas décadas, “avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente” e a segunda, enunciada a 8 de abril de 2020, no decorrer de uma entrevista publicada por um diário de Espanha, onde o Papa Francisco, recordando um ditado espanhol "Deus perdoa sempre, nós de vez em quando, a natureza nunca", refere, em seguida, "não sei se é vingança, mas é a resposta da natureza".

Fica clara a ideia de que “a natureza está a enviar-nos uma mensagem”, tal como afirmou Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, em plena Pandemia da Covid-19. Inger Andersen afirmou ainda que “três quartos das doenças infeciosas que têm surgido recentemente provêm da vida selvagem” e que “nunca antes se deu tanta oportunidade para tal”, rematando que estamos num período em que, face à “erosão continuada de espaços selvagens”, temos já uma “proximidade desconfortável dos animais e das plantas que têm doenças”.

Num momento em que “o mundo cai de joelhos pela pandemia”, disse o Vaticano, Sua Santidade o Papa Francisco propõe “fé e esperança”. Creio que estes sentimentos, para lá do que se prende com o combate à pandemia e aos seus efeitos, serão extensíveis à mudança que a espécie humana terá de operar, ao atual padrão de desenvolvimento, para conseguir a sua própria subsistência.

É também com a esperança de que o 6.º Festival de Jardins Escolinhas possa alcançar níveis de visitação próximas das anteriores edições, que chegou, novamente, o momento de agradecer a todos aqueles que o tornaram possível. Refiro-me, nomeadamente, ao grupo de pessoas que integram as comunidades escolares das instituições de ensino concelhias, do pré-escolar e do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, assim como às juntas de freguesia e aos trabalhadores do Município, em particular, aqueles que desempenham funções na Área Protegida. Não poderia terminar sem endereçar um justo agradecimento aos alunos que deram corpo ao presente Festival de Jardins Escolinhas. Desejo-vos as maiores felicidades e sucessos.

Visitem os Festivais de Jardins de Ponte de Lima, com a Vossa Família e Amigos.

Jacques-Yves Cousteau disse “Durante a maior parte da história, o Homem teve que lutar contra a natureza para sobreviver. Neste século (XX), ele está a começar a perceber que, para sobreviver, deve protegê-la”. O que pensaria e diria Jacques-Yves Cousteau sobre as primeiras duas décadas do séc. XXI?

Victor Mendes
Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima