FESTIVAL INTERNACIONAL DE JARDINS 2016
Vila de Ponte de Lima | Festival Internacional de Jardins

Vila de Ponte de Lima

Ponte de Lima, Saber e Conhecimento


O conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos.
José Saramago, Diário de Notícias, 2009

Atrevermo-nos a realizar um exercício de escrita, como se de um pequeno ensaio se tratasse ou mesmo um hipotético texto de apresentação, sobre o todo que a palavra conhecimento abarca, levar-nos-ia a uma extensa investigação multidisciplinar e com metodologia apropriada, de maneira a efectuarmos um verdadeiro labor de análise e compreensão, no intuito de contribuirmos para acrescentar valor ao que está publicado e divulgado nos mais distintos suportes de informação.

Não será, por isso, esta publicação, que se quer ligeira e proporcionadora de uma leitura fácil e que chegue a todos, o local próprio para enveredarmos para temáticas do conhecimento, do autoconhecimento, do saber, da filosofia, da metafísica, da sociologia, da antropologia e de muitas outras áreas científicas, nem, tão-pouco, seríamos nós os mais indicados para o desenvolver, atrevendo-nos a partir para assuntos que desconhecemos na totalidade, a cair no erro repetido em publicações desactualizadas e, como se costuma dizer, a “meter a foice em seara alheia”.

Por isso, achamos que a opção mais correcta, por se tratar de uma publicação de índole divulgativa e promocional, seria efectuar uma apresentação do que é hoje Ponte de Lima em termos de equipamentos e estruturas ligadas ao conhecimento.

Desde que nascemos, e provavelmente antes, começamos a adquirir conhecimento, na percepção do mundo que nos rodeia, apurando os nossos sentidos para aprender e apreender o que se encontra à nossa volta.

Independentemente de tudo quanto representa o conhecimento adquirido no âmbito familiar, a sociedade em que estamos inseridos obriga-nos a procurar outros meios de aquisição do saber, numa primeira fase de forma muito lúdica para passarmos a modelos que denominaremos por mais sérios, principalmente quando nos referimos a estruturas académicas e científicas, não querendo com isto afirmar que os meios mais empíricos e populares de obtenção e partilha de conhecimentos, muitos deles ancestrais, não tenham uma importância determinante na evolução do Homem.

Ponte de Lima, tendo em conta o exposto, pode dar-se a um certo de luxo por poder conciliar a tradição, a memória e a identidade, baseadas em conceitos de conhecimento que podem passar pelo cancioneiro, pelos trajes populares, pelo artesanato, pelas mezinhas e crenças, pela música e cantigas ao desafio, pelo folclore, pelos ditados e aforismos populares, pelas lendas, pela etnografia e pelos valores que herdamos num território que muitas gerações vincaram profundamente, com equipamentos vanguardistas devidamente vocacionados para a o conhecimento e valorização da comunidade residente e também para os que nos procuram como visitantes ou turistas.

A rede escolar, fundamental para o conhecimento, é composta por 12 centros educativos, pertencentes a 4 agrupamentos de escolas, 8 jardins-de-infância, 3 escolas básicas de primeiro ciclo, 4 escolas básicas de 2.º e 3.º ciclos, 2 escolas secundárias, 3 escolas profissionais, para além do ensino superior ministrado na Escola Superior Agrária de Refoios de Lima (Instituto Politécnico de Viana do Castelo), na Universidade Fernando Pessoa e através do CLA – Centro Local de Aprendizagem da Universidade Aberta, localizado na Escola da Avenida, em Ponte de Lima, sem esquecer o ensino artístico, com destaque para a Academia de Música de Ponte de Lima, equipamento municipal protocolado com a Academia de Música Fernandes Fão.

A Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e de S. Pedro de Arcos, a qual foi por várias vezes referida e apresentada em anteriores volumes desta publicação, a par com a Quinta Pedagógica de Pentieiros, constituem-se como um centro de conhecimento por excelência, reconhecido a nível internacional e procurado por públicos extremamente diversificados, do curioso ao turista, do visitante ao catedrático que se debruça de forma incansável para compreender melhor e estudar aquele espaço único, no que concerne às zonas húmidas, levando ao estabelecimento de protocolos de cooperação e parcerias entre o Município de Ponte de Lima e várias universidades.

Na Área de Paisagem Protegida destacam-se o Centro de Interpretação Ambiental, com recepção, auditório, loja e mediateca, para além do CIL – Centro de Informação do Lima, este último também ligado à rede museológica municipal, bem como uma rede de percursos pedestres e rotas histórico-culturais.

O Centro de Informação do Lima é um recurso com imensas potencialidades e está dotado com avançadas tecnologias, podendo considerar-se um equipamento vanguardista para a interpretação e conhecimento do território, tendo em conta a importância que o Rio Lima detém em termos ambientais, paisagísticos, culturais e socioeconómicos.

Apenas por curiosidade, atente-se à curta descrição deste curso de água, com 108 km de extensão e de extrema importância para o conhecimento da relação do Homem com o meio, de acordo com a brochura de apresentação do Centro de Informação do Lima:

“Ao longo do seu curso e no sentido da foz, desde a fronteira, o rio Lima percorre territórios distintos podendo o seu vale ser dividido, para uma melhor percepção, em três troços diferentes:

i) primeiro, com início na fronteira, vai até Ponte da Barca, constituindo o troço serrano marcado fundamentalmente pelas grandes altitudes e maciços graníticos das serras do Soajo, Peneda, Castro Laboreiro e Amarela. Neste troço localizam-se os seus afluentes mais extensos – os rios Vez e Laboreiro.

ii) O troço intermédio, relativamente curto, que se estende sensivelmente até S. Martinho da Gandra, freguesia de Ponte de Lima, apresenta características entre o troço serrano e o troço seguinte. O vale alarga-se um pouco mais, toma a forma de U, apresentando com frequência faixas marginais planas, ora arenosas e orladas de galeria ripícola arbórea desenvolvida, ora transformadas em férteis áreas agrícolas.

iii) O último troço, de S. Martinho da Gandra até à foz é, pelas suas características, tradicionalmente designado por “Ribeira de Lima”. O perfil transversal em U do vale do Lima abre-se completamente, desenhando uma taça de fundo plano e muito largo. À medida que o rio se aproxima da foz e se faz sentir cada vez mais a influência das marés, aumenta a quantidade de ínsuas, especialmente junto às margens, revestindo-se as faixas planas marginais e as ínsuas, de vegetação herbácea típica de sapal.”

A Rede de Museus de Ponte de Lima brevemente estará enriquecida com o Centro de Interpretação da História Militar de Ponte de Lima que, “instalado no imponente edifício conhecido como Paço do Marquês, erguido na segunda metade do século XV como residência do alcaide-mor D. Leonel de Lima, resulta de um protocolo estabelecido entre o Exército Português e o Município de Ponte de Lima em 2011.

O Centro evidenciará a importância da localização geoestratégica de Ponte de Lima, assumida desde o período romano e narrará, numa abordagem ao longo do tempo, os principais episódios de natureza militar que se sucederam nesta Vila histórica e no território circundante. Paralelamente será traçada a evolução do armamento e das indumentárias e uniformes.

Serão também evocadas figuras militares naturais de Ponte de Lima, ou que com este meio tiveram fortes ligações, mas que se distinguiram noutros cenários de guerra e em altas funções militares e diplomáticas no contexto global da História de Portugal.”

Por sua vez, o Museu dos Terceiros “tem sido uma aposta forte no programa do Município de Ponte de Lima, não só pela riqueza do seu conjunto arquitectónico e do seu acervo mas pelo que representa o projecto no seu todo. O resultado de uma parceria entre o Município de Ponte de Lima e o Instituto Limiano, desde 2001, proporcionou a recuperação de dois edifícios que albergam muita da história limiana e o restauro de um dos melhores acervos de arte sacra do Norte de Portugal.

Com um investimento que ultrapassou um milhão de euros, o Museu dos Terceiros oferece hoje um conjunto de serviços exemplares, no plano museológico, dos quais destacamos as actividades dos Serviços Educativos cujo público-alvo não são apenas as crianças, são igualmente os seniores que têm à sua disposição um conjunto de actividades, incluindo viagens, em que podem participar.

Do inventário informatizado ao programa de exposições temporárias, passando pelo programa de permuta de edições com outras instituições similares no país e pelo programa de captação de novos públicos, podemos afirmar que o Museu dos Terceiros é hoje uma ‘instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que promove pesquisas relativas aos testemunhos materiais do homem e do seu ambiente, adquire-os, conserva-os e expõe-nos para estudo, educação e lazer’; por outras palavras é um Museu disponível a toda a comunidade!” www.museuspontedelima.com

Instalado na Casa do Arnado, que também acolhe o Albergue de Peregrinos de Ponte de Lima, no antigo Arrabalde de Além da Ponte, o Museu do Brinquedo Português é descrito no website acabado de citar, desta maneira:

“No rés-do-chão a viagem no comboio de zinco leva-nos a conhecer a história de alguns dos mais importantes fabricantes nacionais de brinquedos, passando para o confronto entre o brinquedo português e o estrangeiro numa lógica de entendimento de fabrico; como se copiaram e se imitavam moldes estrangeiros. Não termine o rés-do-chão sem olhar atentamente para a resenha de quase duas centenas de fabricantes portugueses que convidam a subida ao primeiro piso.
A narrativa da exposição fica completa no piso superior onde estão expostas muitas das peças da colecção, seguindo uma ordem cronológica, década a década, enquadradas com as alterações formais e técnicas e associadas às transformações sociopolíticas do mundo, cujo impacto foi sentido ao nível nacional. As rocas e as flautas de folha-de-flandres, os baldinhos de praia em madeira com motivos coloridos, as bonecas de pasta de papel, os canhões de folha, passando pelas camionetas, barcos, comboios, triciclos, aos carros a pedais, percorrendo o mundo dos plásticos, apogeu do brinquedo português, até aos Estrunfes em pvc, tudo se fez em Portugal. Os contextos são vários e ajudam-nos a perceber o caminho do brinquedo português ao longo dos tempos.”

Recentemente inaugurado, precisamente no Dia de Ponte de Lima, 4 de Março de 2016, o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde, com gestão conjunta do Município de Ponte de Lima e da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, está instalado no belíssimo edifício comummente conhecido por Casa Torreada dos Barbosa Aranha, Imóvel de Interesse Público, apresenta-se como uma estrutura abrangente que incorpora elementos alusivos à diversidade e identidade das nove Sub-regiões em que actualmente se subdivide a Região Demarcada dos Vinhos Verdes, na perspectiva da promoção do vinho e divulgação do património vitivinícola.

Recorrendo a formas expositivas extremamente vanguardistas, ao nível do design e das soluções tecnológicas, é de visita obrigatória terminando, como não podia deixar de ser, com uma prova de vinhos para quem quiser apreciar este produto único em todo o mundo – o Vinho Verde.

O Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde www.cipvv.pt integra a “Rede de Equipamentos de Vocação Turística, de Promoção dos Recursos Endógenos e do Património Histórico”.

Em paralelo com estes centros do conhecimento, não podemos esquecer dois importantes equipamentos: o Arquivo Municipal (arquivo.cm-pontedelima.pt) e a Biblioteca Municipal biblioteca.cm-pontedelima.pt.

“O Arquivo Municipal de Ponte de Lima instalado na denominada Casa do Calvário é, seguramente, um dos mais ricos arquivos locais do país, com documentos que remontam ao século XIV até aos nossos dias.
Com o intuito de fomentar o estudo sobre a história de Ponte de Lima e de promover a salvaguarda, valorização e divulgação do património arquivístico, garante da memória institucional e colectiva, tem vindo a proceder à digitalização e à disponibilização online de parte do seu acervo, em texto integral.
Apesar da informação assumir cada vez mais o formato digital cabe ao Arquivo Municipal de Ponte de Lima continuar a gerir a memória do passado e do presente mantendo-a acessível no futuro, pretendendo desta forma ultrapassar a tradicional função de salvaguarda do património histórico assumindo cada vez mais o seu contributo para a prestação de serviços de qualidade ao cidadão”.

A Biblioteca Municipal, “instalada num majestoso edifício de valor histórico e patrimonial do século XVII, encostado ao intradorso da muralha e engrandecido por uma varanda alpendrada, é responsável pela preservação e difusão da documentação, pela promoção da cultura e da história local, contribuindo para a consolidação da memória colectiva, albergando um valioso espólio bibliográfico, culturalmente insubstituível, sobre Ponte de Lima.

Local de informação, de cultura, de educação, de lazer e do conhecimento, tem como principal missão o incentivo à leitura, favorecendo competências de literacia que contribuam para uma maior autonomia, participação social e enriquecimento do conhecimento.

Aqui poderá usufruir do empréstimo domiciliário, desfrutar da leitura de jornais e revistas, aceder gratuitamente à internet, participar em iniciativas de dinamização e promoção do livro e da leitura ou, simplesmente, conhecer o espaço e apreciar exposições.”

Apesar de todos estes equipamentos terem presença individualizada na internet e nas redes sociais, bem como outros que a seguir serão apresentados, existem catálogos em linha para consulta e acesso aos acervos respectivos.

Ultimamente, num exemplo nacional, foi apresentado o RIMPL – Repositório de Informação do Município de Ponte de Lima, “um projecto pioneiro na administração local em Portugal, que consiste na disponibilização de uma interface gráfica comum de pesquisa nos catálogos do Arquivo, da Biblioteca e dos Museus Municipais, evitando, desta forma, a necessidade de aceder a cada um dos sistemas individualmente para obter a informação pretendida.

O portal do RIMPL, disponível na internet rimpl.cm-pontedelima.pt, ambiciona constituir-se como um importante serviço na disponibilização de recursos informativos sobre a história local, contribuindo para a afirmação da cultura e da identidade locais enquanto factores de integração, competitividade e desenvolvimento.”

Um outro equipamento de importância primordial e com uma actividade permanente através de uma programação continuada e dirigida aos muitos públicos que o procuram é o Teatro Diogo Bernardes, espaço que, através das mais distintas expressões artísticas (teatro, dança, música, novo circo…) é mais um centro de conhecimento colocado à disposição de todos e que este ano completará 120 anos de existência ao serviço da cultura e do conhecimento em Ponte de Lima. O projecto do edifício foi encomendado em 1893 ao Arq.º António Adelino de Magalhães Moutinho, iniciando-se as obras no ano seguinte, tendo a inauguração ocorrido em 19 de Setembro de 1896. Conheceu dias piores nos anos 80 do século XX, situação que levou à aquisição por parte do Município, para uma intervenção de recuperação e restauro, ocorrendo a reinauguração em 1999. Hoje, funciona como um espaço de serviço público de cultura, com programação regular entre os meses de Setembro a Maio. São da sua responsabilidade a gestão da agenda cultural concelhia, a publicitação e difusão dos grandes eventos, a programação em auditórios e espaços abertos, a organização de exposições e conferências, a produção de todo o tipo de espectáculos e a planificação da actividade cultural no concelho protocolada e em parceria com diversificadas instituições.

A Torre da Cadeia Velha, edifício com fundação do século XIV, aquando da fortificação da Vila no reinado de D. Pedro I e com adaptação a cadeia no reinado de D. Manuel I no século XVI, para além de ter instalada a Loja Interactiva de Turismo, funciona como mais um centro de conhecimento propriamente dito através das inúmeras exposições (pintura, escultura, fotografia, artesanato…) que ali se realizam, muitas das quais associadas a nomes de reconhecida importância no contexto artístico regional e nacional, bem como da vizinha Galiza.

Contudo, em termos de conhecimento, todo o concelho é uma contínua lição. Para além do património imaterial, que se encontra em estudo e inventariação, o património construído é notável, não cabendo aqui a oportunidade de nos debruçarmos sobre o património humano, com ligações a Ponte de Lima e relacionado com o conhecimento, pois teríamos que ocupar umas dezenas de páginas que uma publicação desta índole não comporta.

A paisagem é digna de uma apreciação pormenorizada, de uma leitura adequada que permitirá uma percepção das relações estabelecidas entre o Homem e a Natureza ao longo dos séculos, complementada com a existência de património material em que a intervenção humana se faz testemunhar desde épocas ancestrais, que podem remontar, pelo menos, à Idade do Ferro. Porque conhecimento também passa pelo turismo, pelas visitas e pela procura daquilo que é peculiar e distinto numa localidade ou em determinada parcela de território, aqui ficam algumas dicas para uma experiência diferenciada, no sentido da obtenção de conhecimento e de saber, através da observação in loco, de monumentos e sítios que Ponte de Lima se orgulha de possuir.

Dos inúmeros castros identificados no concelho, o Castro de Santo Estêvão da Facha merece uma visita especial dado tratar-se de um belíssimo testemunho de ocupação territorial, a famosa cabeça da Terra de Santo Estêvão, por demais conhecida em tempos medievais, para além de permitir apreciar a Capela de Nossa Senhora da Rocha, que também dá nome ao monte e uma das paisagens mais impressionantes de todo o Alto Minho, possibilitando conciliar património humanizado com património natural e ambiental.

A cultura castreja, associada à localização dos povoados em locais estratégicos que permitissem a defesa, de que Santo Estêvão é exemplo significativo e independentemente da existência dos denominados castros agrícolas em locais menos elevados, pode remontar ao século VI a.C. e ao início do desenvolvimento da metalurgia por parte das populações.

A ocupação romana veio alterar por completo toda a estrutura organizacional das populações castrejas, o que não impediu a manutenção do aglomerado populacional, pelo menos, até ao século XII e primeira metade do seguinte, conforme demonstram os vestígios cerâmicos ali encontrados.

Os amantes do pedestrianismo e dos longos passeios a pé ou de bicicleta, podem fruir da experiência única de trilhar um dos troços mais relevantes do Caminho Português de Santiago, o qual atravessa o concelho de Ponte de Lima desde o Vale do Rio Neiva atá à Portela Grande, passagem para o concelho de Paredes de Coura, depois de passar a mítica Serra da Labruja, a maior referência, em termos de dificuldade, do itinerário jacobeu em toda a sua extensão.

Percorrer o trilho de peregrinação, marcado com as célebres setas amarelas, é uma experiência singular que permitirá apreciar monumentos e sítios ao longo de todo o percurso que atravessa o concelho de Ponte de Lima, destacando-se: Igreja de Vitorino dos Piães, Portela da Facha, Cruzeiro de Brás Colaço Guerra (Correlhã), Capela de Nossa Senhora das Neves (Correlhã), Igreja de Arcozelo, Capela de Nossa Senhora das Neves (Labruja) e Cruz dos Franceses (Labruja).

Existem vários vestígios do românico no concelho de Ponte de Lima, com especial destaque para a arquitectura religiosa, salientando-se os três exemplares que apresentamos por serem dos mais representativos, pese embora a sua simplicidade, por vezes, obrigar a um olhar mais atento, tendo em atenção os pormenores que se podem apreciar e que caracterizam muito bem o que se pode denominar pela segunda fase do foco românico da região, já em plena transição para o gótico – Igrejas Românicas de Santo Abdão (Correlhã), Espírito Santo (Moreira) e Santa Eulália (Refoios).

O ex-libris de Ponte de Lima que, conjuntamente com o rio que banha a Vila, deu o nome à localidade é a sua ponte que, na realidade, é um conjunto de duas – um troço medieval, de maior dimensão, que tem início na margem esquerda e se estende até à Igreja de Santo António da Torre Velha e a partir desta e dos alicerces da Torre Velha, ainda bem visíveis, na margem direita, um troço romano, cuja arquitectura é perfeitamente identificável.

A ponte romana data provavelmente do século I, uma vez que foi nessa época que se procedeu à abertura do trajecto de uma das vias militares do antigo “Conventus Bracaraugustanus”, que ligava Braga a Astorga, neste caso a Via XIX, mandada abrir pelo Imperador Augusto.

No que respeita à parte medieval, pese embora se possa recuar no tempo, pelo menos até aos reinados de D. Pedro I e de D. Fernando, por ligação directa à construção das muralhas e das torres que fortificavam a Vila, obra terminada em 1370, ou até de D. Dinis, tendo em conta documentação que refere uma ponte, que também poderia, por aquela altura, ser de madeira, sabemos da sua existência no reinado de D. Manuel I, mais precisamente em 1504, por este monarca ter mandado fazer novo calcetamento e colocar merlões para decoração da ponte, pois já não se justificavam como opção defensiva e militar.

Como falámos da fortificação da Vila, cabe aqui uma referência ao que restou da mesma, nomeadamente a Torre de S. Paulo e a Torre da Cadeia Velha, que aludimos anteriormente. Classificadas como monumentos nacionais, assim como o pano de muralha que as une, a Torre da Cadeia Velha e a Torre de S. Paulo (que também já teve o nome de Torre da Expectação e de Torre do Postigo), são os testemunhos mais notórios do que resta da velha muralha de Ponte de Lima, a qual, para além da estrutura amuralhada, era composta por torres e portas, conjunto edificado no reinado de D. Pedro I, no século XIV.

Conforme a pedra que documenta a obra, escrita em gótico, colocada em destaque junto à Igreja de Santo António da Torre Velha, onde outrora se erguia a Torre Velha, o corte, a britagem e o aparelhamento da pedra começaram em 8 de Março e o assentamento da pedra teve início em 6 de Julho de 1359.

O visitante mais atento, num passeio pelo casco histórico, não deixará de encontrar vestígios das torres e das muralhas e as marcas respectivas, colocadas no solo, a evocar a estrutura monumental.

As construções medievais, ou com vestígios da Idade Média, proliferam por todo o concelho de Ponte de Lima, principalmente se atentarmos a muitos elementos arquitecturais que não passam despercebidos na arquitectura civil, militar e religiosa.

A Torre de Refoios, de que foi proprietário e/ou fundador, segundo se crê, D. Afonso Ansemondes, companheiro de D. Afonso Henriques, aquando da fundação da nacionalidade (século XII) e, muito certamente, anterior à origem do Convento de Refoios, pela família daquele nobre, é um exemplar notável de uma arquitectura militar aliada à arquitectura civil.

Pela respectiva classificação patrimonial, trata-se de um exemplar de “arquitectura residencial, medieval, com torre de planta quadrangular de quatro registos, rasgados por frestas, com fachada principal tendo portal axial de vão em arco quebrado, ao nível do segundo piso e ala residencial de planta em L e de dois pisos adossada.

Pelas suas feições e características vale a pena uma ligeira referência ao Paço de Corutelo, em Freixo que, provavelmente dos finais da Idade Média, é descrito, em termos de património classificado, como uma casa nobre quinhentista, de feição acastelada, na tradição medieval de ‘casa-torre’, em que esta surge ao centro da ala residencial, mais baixa. A regularidade planimétrica leva-nos a considerá-lo uma construção de cerca do século XVI”.

Avançando no tempo, o período barroco marcou profundamente o território de Ponte de Lima no concernente à ocupação humana do espaço.

Ponte de Lima, nos seus 351 km2, reúne o maior conjunto existente em Portugal dos denominados solares barrocos, essas tão curiosas casas apalaçadas, muitas delas palácios na verdadeira significação da palavra, exemplares únicos da arquitectura civil erudita que marcou um período mais rico de Portugal, principalmente pelo ouro e açúcar vindos do Brasil, sobretudo nos séculos XVII e XVIII.

Listá-los daria um enorme roteiro, descrevê-los obrigaria a um compêndio, estudá-los implicaria uma vida.

Enunciamos alguns, dos mais representativos, os quais abrirão certamente o apetite para uma descoberta mais aprofundada e que fascinará qualquer um. Solar de Bertiandos, Casa da Lage (S. Pedro de Arcos), Casa do Outeiro (Arcozelo), Casa de Pomarchão (Arcozelo), Casa de Pombeiro de Sabadão (Arcozelo), Casa de Sabadão (Arcozelo), antigo Convento de Vale de Pereiras (Arcozelo), Paço de Calheiros, Paço do Cardido (Brandara), Casa de Nossa Senhora da Aurora (Ponte de Lima), Casa dos da Garrida (Ponte de Lima), Casa das Pereiras (Ponte de Lima), Casa do Morgado do Outeiro (Correlhã), Casa da Torre das Donas com portada de Nicolau Nasoni (Vitorino das Donas), Casa de Crasto (Ribeira), Paço de Beiral, Casa das Torres (Facha), Casa do Anquião (Fornelos) e Casa do Baganheiro (Queijada).

Para além da arquitectura civil, em que o barroco sobressai, pelo número de exemplares preciosos, perante outros estilos, a arquitectura religiosa recebeu fortes intervenções durante o período barroco, pese embora se possam tirar algumas lições excelentes de outros estilos e gramáticas decorativas precedentes como o gótico e o maneirismo, bem como, conforme se refere nesta publicação, mais anterior ainda, do românico.

Da transição do século XVII para o XVIII, identificada como igreja de peregrinação, Nossa Senhora da Boa-Morte, na Correlhã, é um dos mais belos exemplares arquitectónicos para uma leitura da evolução entre o maneirismo e o barroco, uma vez que toda a planimetria é daquele estilo e a decoração assenta na escola artística posterior. A capela-mor, com o retábulo em talha dourada, é das maiores preciosidades barrocas do Norte do país pela originalidade da imaginária.

Na freguesia da Labruja, destaca-se o Santuário de Nosso Senhor do Socorro, cuja construção teve início em 1773 e que congrega a monumental igreja a um não menos imponente escadório e estruturas envolventes, com destaque para os fornos comunitários em que se assavam cabritos e frangos por ocasião da romaria. O conjunto formado pelo património religioso na Vila e imediatamente após a travessia da ponte medieval e romana, Além da Ponte, como por cá se diz, é digno de um passeio atento. São vários os edifícios religiosos, podendo começar pela Capela de Nossa Senhora da Guia, ao fundo da Avenida dos Plátanos, passando pelo conjunto das Igrejas de Santo António dos Frades e da Ordem Terceira, que formam o Museu dos Terceiros, que referimos, seguindo para a Igreja Matriz, com passagem pela Capela de Nossa Senhora da Penha de França, esta com um belíssimo altar barroco.

Em frente à Matriz, a Igreja da Misericórdia, com um magnífico púlpito em talha dourada e um frontal de altar digno do maior destaque, que representa o Milagre da Multiplicação dos Pães.

Um pequeno desvio leva-nos à Capela de Nossa Senhora da Lapa e desta à Capela de Nossa Senhora da Misericórdia das Pereiras, de onde se podem apreciar a Vila e o Rio Lima de forma única.

Depois da visita obrigatória à Capela de S. João, resta-nos atravessar a ponte e admirar a Capela do Anjo da Guarda, exemplar extremamente curioso e a Igreja de Santo António da Torre Velha.

Mas o visitante não pode esquecer os conventos, mosteiros e igrejas paroquiais, as capelas, as pontes, os pelourinhos, as alminhas, os nichos, os cruzeiros, as vias-sacras, as fontes e as casas dos “brasileiros de torna-viagem”. Há exemplos assinaláveis de cada uma destas construções que absorvem a nossa atenção por períodos consideráveis de tempo.

Para finalizar, além de aconselharmos à confraternização com as nossas gentes, compêndios de sabedoria e em que a aquisição de conhecimento, pela partilha, é permanente, uma muito ligeira alusão ao que foi a principal fonte da Vila durante séculos – o Chafariz Nobre.

A importância da água, mesmo numa região onde a mesma, felizmente, abunda, de que é prova o verde da paisagem que nos caracteriza, sempre foi respeitada e a prová-lo estão os chafarizes, outrora locais de abastecimento e hoje de aformoseamento, bem como, as fontes que serviam as populações antes da proliferação dos sistemas de abastecimento domiciliário de água serem implementados.

O Chafariz Nobre do Largo de Camões ficou concluído em 1603, depois de, em 1578, ter sido lançada uma finta (imposto) sobre alguns bens de consumo, nomeadamente o tão precioso sal, cuja receita serviu para erigir aquilo que hoje apreciamos como um monumento.

Descobrir Ponte de Lima é conhecimento constante, pelo que, como dizia o Padre Manuel Dias, “Seja bem-vindo quem vier por bem!”