A eficiente gestão do território alicerça-se, antes de mais, na compreensão dos diferentes usos e funções e do modo como estes se articulam, a nível ambiental, socioeconómico e cultural. Os espaços florestais representam mais de metade da superfície do concelho de Ponte de Lima. A floresta, ainda que sujeita a circunstâncias administrativas díspares, tem de ser entendida, na sua complexidade, dinâmica e multifuncionalidade, como um recurso de sustentabilidade e competitividade dos territórios. Com este intuito, é essencial distinguir as características que diferenciam a pluralidade dos espaços florestais do concelho, diversidade que sustenta o seu valor ecossistémico e excepcional mosaico paisagístico, possibilitando uma exploração selectiva e equilibrada das suas múltiplas valências.
A sociedade actual valoriza cada vez mais a multiplicidade de bens e serviços oferecidos pelos espaços florestais, maximizando o seu potencial produtivo. Os valores de uso directo, como a madeira, a cortiça e a resina, que no passado detinham um lugar central e quase exclusivo no conjunto das produções florestais, coexistem hoje com a importância crescente de sub-produtos não lenhosos, entre os quais se destacam o mel, os cogumelos e as plantas aromáticas, bem como de actividades associadas ao espaço florestal como o pastoreio, a caça, a pesca desportiva e o recreio.
Simultaneamente, é reconhecido o papel fundamental da floresta a nível da protecção dos solos, da preservação dos recursos hídricos, do sequestro de carbono e da promoção da biodiversidade. O incremento da consciência colectiva relativamente à importância das florestas para a qualidade ambiental foi acompanhado de um reforço da procura destes espaços pelos diferentes grupos sociais. As actividades de lazer na floresta tornam-se cada vez mais diversificadas com a expansão do ecoturismo, do turismo paisagístico e dos desportos radicais.
O relevo vigoroso que modela o espaço concelhio, tendo o vale do rio Lima como eixo central, condiciona visivelmente o padrão de distribuição das grandes manchas florestais, que se desenvolvem tendencialmente no nível de meia-encosta, na transição entre a Veiga Limiana e as vertentes de forte declive, a maior altitude, onde domina o coberto arbustivo esparso. Paralelamente, constatamos que, de modo genérico, os padrões de ocupação florestal e os regimes de propriedade que lhe estão associados obedecem à mesma progressão, verificando-se o domínio dos terrenos baldios nas áreas serranas de maior altitude e prevalência das áreas florestais sob gestão privada a meia-encosta. Esta organização espacial da ocupação florestal e da tipologia da propriedade influencia a sua aptidão funcional.
Na análise diacrónica das funções e serviços associados ao espaço florestal transparece um processo de inversão do seu grau de importância. A floresta, não podendo de forma alguma negligenciar a rentabilidade económica, ascende a um novo estatuto de “espaço–património”, seja enquanto património natural, paisagístico ou cultural/espiritual.
Se esta lógica de distribuição é influenciada por factores naturais, que se prendem com o tipo de solos e aspectos de ordem climática, explica-se essencialmente por factores históricos e económicos, que determinaram, desde sempre, o aproveitamento agrícola das áreas mais férteis e planas, beneficiando da proximidade da floresta como fonte de produtos complementares à agro-pastorícia tradicional. Nos sistemas económicos rurais, a floresta, designada na linguagem popular como a “bouça” ou o “monte”, encontra-se plenamente integrada na rede de espaços produtivos, sendo activamente explorada pelas populações. Na verdade, a pulverização das comunidades arbóreas traduz-se na interpenetração entre campos de cultivo, pastagens, pequenos bosques e galerias ripícolas. As manchas florestais descontínuas surgem frequentemente no limite das áreas agrícolas, bordejando as parcelas de solo arável e os socalcos de pastagens permanentes. Acompanham também os cursos de água subsidiários do rio Lima, desde as cabeceiras até às áreas de fundo de vale, onde a maior intensidade da ocupação humana já fragmentou estes corredores ecológicos.
Destaque-se, a título exemplificativo, os interessantes carvalhais galaico-portugueses que se desenvolvem nas áreas mais elevadas das bacias hidrográficas dos rios Labruja e Trovela.
Reconhecendo o valor patrimonial do mosaico florestal do concelho de Ponte de Lima, especialmente no que se refere à prestação de serviços ecológicos, económicos e socioculturais, têm sido empreendidos esforços no sentido de promover a sua rentabilidade e usufruto, através do desenvolvimento de iniciativas em colaboração ou parceria com os principais intervenientes – os compartes dos baldios e os produtores e/ou proprietários privados.
São numerosos os exemplos de projectos pro-movidos pelo Município no contexto de parcerias com os actores locais, sendo digna de nota a criação de alojamento turístico inserido em áreas limítrofes ao espaço florestal, através da recuperação e reconversão de diversos equipamentos em “Casas de Abrigo”. Merece também referência a criação e dinamização de estruturas de apoio às actividades de turismo, lazer e desporto, seja nas áreas florestais, seja na transição entre o espaço agrícola e as áreas arborizadas. Não podemos esquecer que, no Alto Minho, a organização do espaço é muitas vezes difusa e complexa, sendo difícil individualizar e compartimentar a ocupação do território. Por isso, é imperativo que a gestão da floresta seja articulada com a gestão do espaço agro-pecuário, aquele que lhe é mais próximo e com o qual interage de modo constante.
Não descurando a importância das políticas e medidas de preservação e valorização da floresta enunciadas, importa ainda enfatizar que a gestão do espaço florestal emerge como forma de prevenção de incêndios e controlo da expansão das espécies invasoras. Estas são as duas principais ameaças à conservação do equilíbrio destes ecossistemas e da biodiversidade que lhes está associada, actuando conjuntamente com um efeito exponencial. Se o fogo é um agente de expansão das invasoras lenhosas, estas constituem, de igual modo, um material com elevada combustibilidade.
Com a escolha da temática da edição de 2011 do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima – “A Floresta no Jardim” – pretendemos promover a reaproximação das comunidades locais à floresta, trazendo para o espaço construído as representações e as vivências do espaço silvícola. Nesse sentido, esta é também uma iniciativa de educação ambiental, colocando aos visitantes e participantes o desafio de olhar a floresta sob novas perspectivas e nela encontrar renovados significados.