Neste jardim as plantas aromáticas, largamente utilizadas na culinária e na indústria, crescem em corações, simbolizando o eterno perfume do amor.
Existe, propositadamente, uma composição fortemente metafórica, permitindo diversas leituras ao visitante.
Este amor - homenagem à Natureza, simbolizada nas plantas e na fragilidade do coração -, despedaça-se facilmente se não for alimentado.
Os corações são delimitados em vários materiais - desde o vime à madeira, passando pela cerâmica, pelo granito e pelo xisto, representando os elementos próprios de cada região e técnicas construtivas de variadas épocas históricas.
É um jardim que se sente, que se cheira, que nos perfuma o espírito e nos abre a consciência para horizontes sensuais e, porque não dizê-lo, no limiar de erotismo.
Um jardim para dois, onde o Amor se venera e se sente, recordando-nos a poesia:
Imenso cresço sobre a tua fragilidade
Um mar encrespado e rouco submergindo
a pequena ilha de cactos e palmeiras
de aves policromas e canoras
ardente resina sobre dulcíssimos pólenes,
aromas núbeis
cresço e enlaço, sôfrego, a tua jacente
silenciosa súplica
o meu corpo navegador3 viaja-te as grutas recônditas
da humildade doce, galga-te as anfractuosidades
suaves, devassa-te as fundas gargantas
onde freme um apelo de vida sem idade
um sussurro de música longíncua sublima
a fonética precária dos gemidos
Imolas-te em volutas de volúpia
à minha intempestiva expugnação
és corpo aberto e chamativo, ânfora de vinho novo,
túrgida maçã, mulher
Claúdio Lima
Maça pra Dois