O jardim da terra representou-se através de um perfil simbólico do globo, onde se podem observar uma grande diversidade de materiais desde os minerais aos vegetais, às sementes e aos frutos secos. A água é simbolizada pela gravilha.
É um jardim com uma forte componente pedagógica e que dará um contributo ímpar para o conhecimento, a percepção e a compreensão da terra, nas diferentes formas de a abordar, devendo este jardim ser entendido como uma aula ou como uma lição.
E fora da "sala de aula" podemos entender o significado da terra para o homem - o respeito pela sua Terra, que o viu nascer e lhe deu o ser, que ele respeita como Mãe, e quantas vezes como madraste -, cuidado-a, amando-a, acarinhando-a acariciando-a, pois dela nasceu e dela faz parte; Homens que somos, fomos Terra, somos Terra e à Terra voltaremos.
Durante algum tempo voaram acompanhados por um milhafe que assustara e fizera fugir todos os pássaros, iam só os dois, o milhafre adejando e pairando, percebe-se que voe, a passarola sem mover as asas, não soubéssemos nós que isto é feito de sol, âmbar, nuvens fechadasm ímanes e lamelas de ferro, e não teríamos a desculpa da mulher que estava deitada no restolho e já não está, acabou-se-lhe o gosto, daqui nem o sítio se vê.
O vento mudou para sudoeste, sopra com muita força, a terra passa em baixo como a superfícia móvel de um rio que transportasse na corrente campos, bosques, aldeias, cores de verde e amarelo, ocres e castanhos, paredes brancas, velas de minhos, e também fios de água sobre a água, que forças seriam capazes de fazer a separação dessas águas, o grande rio que passa e tudo leva consigo, água dentro de água, e não o sabem.
Estão os três voadores à proa da máquina, vão na direção do poente, e o padre Bartolomeu Lourenço sente que a inquisição regressou e cresce, é pânico já, enfim vai ter voz, e essa voz é um gemido, quando o sol se puser, descerá irremediavelmente a máquina, talves cais, talvez sedespedace e todos morrerão. É Mafra, além, gria Baltazar, parece o gajeiro a bradar do cesto da gáveta, Terra, nunca comparação alguma foi tão exata, porque esta é a terra de Baltazar, reconhece-a, mesmo nunca a tendo visto do ar, quem sabe se por termos no coração uma orografia particular que, para cada um de nós, acertará com o particular lugar onde nascemos, o côncavo meu no teu convexo, no meu convexo o teu côncavo, é o mesmo que homem e mulher, mulher e homem, terra somos na terra, por isso é que Baltazar grita, É minha terra, reconhecendo-a como um corpo.
José Saramgo
Memorial do Convento