O jardim do fogo tem uma carga simbólica forte, permitindo várias leituras e procura estimular a interrogação, através de elementos do nosso quotidiano, dispostos de forma radio-concêntrica representando o astro rei - o Sol. As gigantes cabeças de fósforos e o carvão fumegante, reforçam-nos as pistas para as diferentes leituras do espaço.
O fogo que nos atrai num crepitar deuma lareira, que nos amedronta na sua imensidão destriudora quando consome florestas inteiras, que nos espanta de admiração quando a cratera de um vulcão cospe chamas e labaredes, que nos aconchega do frio do Inverno, que nos delicia, quando tratado artifícialmente, em espetáculos pirótecnicos, continua a ser para o Homem um enigma, conseguindo sempre aliar no fogo o espetáculo e adestruição, a beleza e o estarrecimento, a perfeição e o caos.
E assim continuou e sobre cada uma das ferramentas caseiras de trabalho estendia a mão e deixava cair um poco do precioso hidromel. A luz tornou-se dourada à medida que o Sol mergulhava por trás das copas dos carvalhos. A última ferramenta foi o arado puxado por oito bois que os homens tinham construído há muitos anos atrás sob as ordens de ludban. Com aquela ferramenta os campos mais pedregosos tinham-se tornado macios e férteis. Tinhamo-lo envolvido com grinaldas de flores amarelas de tanásia e urze fragante e Conor parou diante dele erguendo o seu bordão.
- Que nehum mal caia sobre os nossos trabalhos - disse ele. - Que nenhuma praga caia sobre as nossas searas, nenhuma doença sobre os nossos rebanhos. Que o trabalho deste arado e das nossas mãoes traga uma boa colheita e uma estação próspera.
Demos graças à Terra, que é a nossa mãe, pela chuva que traz a vida. Honremos o vento que agita as sementes dos grandes carvalhos; venere-mos o Sol que aquece a nova vida. Em tudo te honramos, Brighid, tu que acendes os fogos da Primavera.
O círculo de druidas repetiu a última frase, as vozes profundas e soantes. Conor voltou para junto do irmão, colocou-lhe o cálice nas mãos e Liam comentou que talvez pudessem partilhar o que restava, depois da ceia. A cerimónia estava prestes a terminar. Conor virou-se e avançou um passo, doi, três. estendeu a mão direita. Um jovem iniciado, alto, com uma cabeleira de caracóis do vermelho mais escuro jamais visto, avançou, repidamente e pegou no bordão do seu mestre.
Colocou-se de lado, observando Conor com um olhar cuja intensidade me causou arrepios. Conor ergueu as mãos.
- Vida nova! Luz nova! Fogo novo! - disse ele e a sua voz já não era calma, mas sim poderosa e clara, soando através da floresta como um sino solente. - Fogo novo!
Juliet Marillier
O Filho das Sombras