FESTIVAL INTERNACIONAL DE JARDINS 2005

O Jardim do Quatro Elementos - A Água

O visitante entra numa enorme tenda em rede ondulante simbolizando as nuvens e, ao mesmo tempo, encontra o elemento água contido em canais de vidro apercebendo-se da fragilidade deste elemento essencial à vida. O espaço envolvente, àrido, convida-nos a pensar no deserto e na falta deste elemento.

Nos tempos que decorrem, as mudanças climáticas constantes, as catástrofes naturais e a falta de cuidado que a Humanidade tem tido para com a água, este jardim alerta-nos, grita-nos, clama pela nossa intervenção, pois não nos podemos demitir das nossas obrigações maiores para com o Planeta Terra.

Em Yoroido, na nossa pequena aldeia de pescadores, eu vivia no que costumava chamar de uma "casinha bêbeda". Erguia-se junto a um rochedo onde o vento do mar soprava sempre. Enquanto criança, achava que era como se o mar tivesse apanhado uma tremenda constipação, porque estava sempre com um respirar de asmático e havia momentos que soltava um enorme espirro - o que quer dizer que havia uma rajada de vento que lançava tremenda borrifadelas.

Convenci-me de que, de vez em quando, a nossa casinha se deveria sentir ofendida pelo mar a espirrar-lhe a cara, e resolvia inclinar-se para trás porque se queria desviar.

Provalvelmente ter-se-ia desmoronado se o meu pai não tivesse cortado uma prancha de um barco de pesca naufragado para escorar as caleiras, o que fazia a casa parecer um velhote embriegado apoiando-se na sua muleta. Dentro desta casa bêbada eu vivia uma espécie de vida lateral. Porque desde os meus primeiros anos que era muito parecida com a minha mãe, e nada com o meu pai ou a minha irmã mais velha. A minha mãe dizia que era porque tínhamos sida fitas iguais, ela e eu - e era verdade, tínhamos ambas um mesmo tipo estranho de olhos de uma espécie que quase nunca se encontrava no Japão.

Em vez de serem castanhos escuros como os de toda a gente, os olhos da minha mãe eram de um cinzento translúcido, e os meus exatamente iguais. Quando era muito nova, disse ªa minha mãe que achava que alguém tinha feito um buraco nos olhos dela e a tinta havia escorrido toda, ao que ela achou muita graça. Os adivinhos diziam que os olhos dela eram assim tão pálidos por ter demasiada água na sua personalidade, tanta que os outros quatro elementos estavam praticamente ausentes - e era por causa disto, explicavam eles, que as características dela eram tão pouco harmoniosas.

Artur Golden
Memórias de uma Gueixa

Plantas deste espaço



Canna Indica

Canna
Indica

Cyperus Papyrus

Cyperus
Papyrus

Nymphaea

Nymphaea

Pistacia Lentiscus

Pistacia
Lentiscus

Zantedeschia Aethiopica

Zantedeschia
Aethiopica





Localização