
A concepção do jardim assenta na especificidade da maioria dos seus criadores e na dos destinatários: é um jardim feito por crianças a pensar nas crianças.
A melhor forma encontrada para abordar o tema dos sentidos de um prisma essencialmente infantil baseou-se num desenho da Laura, na altura com 4 anos. Considerando que o rosto humano encerra em si a quase totalidade das janelas para os sentidos, e que é no rosto que temos os órgãos receptores de uma série de estímulos, foi também opção dos autores conceber a exploração do espaço de jardim num duplo propósito: o esteticamente aprazível tem de conviver com o ludicamente atractivo.
É sugerido ao visitante um percurso que também encerra uma dupla valência. Ao mesmo tempo que se exploram os espaços do jardim, é dada a primazia ao sentido que o rosto recebe mas não protagoniza. Com efeito, ao propor aos visitantes que se descalcem, os criadores remetem ao longo de todo o jardim para o tacto. É a pé e com os pés que se deve usufruir do espaço, experimentando as várias texturas.
Quanto aos outros sentidos, as propostas são variadas: a simulação de um lago no lugar da boca como ilustração da metáfora “água na boca”; os instrumentos musicais como a vocalarpa ou o tubobidonofone (este no local de uma das orelhas “forrado” por canas que emitem sons com o soprar do vento); a instalação da audeólica, os últimos para ilustrarem a audição. Na visão, os canteiros em forma de olhos e o apelo às mais variadas sugestões cromáticas nas variações de piso, nas cores da vegetação com tanto de mimético como de metafórico, ou através de vários artifícios, como as garrafas e as mangueiras pintadas no local dos cabelos, são alguns dos pontos a destacar. No que respeita ao olfacto, inevitavelmente centrado no nariz, são os odores florais e de plantas aromáticas que detêm a primazia.
Para além da ilustração dos sentidos, a sugestão do percurso não se pretende meramente contemplativa. Foram criadas áreas de lazer para o público infantil, onde para além dos instrumentos musicais, o visitante poderá encontrar um espaço de leitura, a VocaBolaRis, e outro para brincar. Este último inclui, na orelha esquerda do rosto, a espiralbola, ilustrativa da vertigem do tímpano. Ao lado, todos poderão jogar à macaca, numa área concebida e pensada para o efeito.