FESTIVAL INTERNACIONAL DE JARDINS 2010

Vila de Ponte de Lima

Ponte de Lima

A aliança perfeita da paisagem com a biodiversidade

Cada uma das edições do Festival Internacional de Jardins tem sido motivo para apresentar, através da publicação que serve de cartão de visita ao evento, um ou outro aspecto que merece destaque no vasto leque de valores concernentes ao ambiente, à educação ambiental, à ruralidade e a um sem número de actividades ligadas à Terra e, como não podia deixar de ser, às acções em torno da jardinagem e dos jardins.

Desta feita, gostaríamos de vos apresentar aquilo que nos permitimos considerar uma perfeita conjugação – a riqueza da paisagem limiana e a magnificência da biodiversidade que a ela se alia.

Convidamos, por isso, os nossos Munícipes e todos aqueles que nos visitam a deslocarem-se a alguns dos pontos mais altos do Concelho, vulgo miradouros, e desfrutar de momentos ímpares de rara beleza.

A partir desses pontos, que a Natureza soube brindar com a formosura que os envolve, aprecie e deleite-se com o serpentear de rios, ribeiros e riachos, com a palete de cores com que a diversidade biológica decora o espaço, com as inúmeras espécies animais que regalam os mais pacientes ou, doutra forma, com as milhentas espécies vegetais que são uma dádiva para os que apreciam a variedade que este rincão de terra oferece, mesmo aqueles que se consideram menos atentos.

Não acreditamos que haja alguém que fique indiferente a tão grande expressão de beleza e encanto!

S. Lourenço na freguesia de Gondufe, o célebre penedo a caminho do lugar da Vacariça na freguesia de Refoios, o Monte de S. Cristovão na freguesia de Freixo, o Bom Jesus na freguesia de Anais, o Monte de Santa Maria Madalena, que outrora se designou por Monte das Santas, na freguesia de Fornelos, a Senhora da Rocha, onde se encontra o famoso Castro de Santo Estêvão, vestígio arqueológico que marca a origem do histórico Concelho de Santo Estevão de Riba Lima, na freguesia da Facha, os socalcos nos lugares de Casal de Pedro e de Sobrada na freguesia de Rendufe ou o inigualável Monte de Santo Ovídio na freguesia de Arcozelo, são locais que permitem o vivenciar de experiência e paisagens únicas e inesquecíveis, resultando em momentos singulares de autêntico prazer.

Propomos-lhe que se atreva a encontra-los, que se aventure por um Concelho de Ponte de Lima que espera por si de braços abertos e que o quer acolher com o fidalgo receber característico deste pedaço de chão que muito orgulha todos os que aqui nasceram ou que o escolheram para viver e ver crescer os seus filhos.

Partilhá-lo é uma honra para todos nós.

Aproveite esses passeios para desvendar a autenticidade das nossas populações e a peculiaridade do seu viver – esteja atento e permita-se descobrir um pastor que conduz o seu rebanho, uma pequena manada de garranos em estado semi-selvagem, as gentes que amanham o campo, a beleza dessas mulheres e desses homens que representam uma herança ímpar de saberes acumulados ao longo de séculos. Deslinde os incontáveis ângulos desse património imaterial que está presente na forma de criar os filhos, na maneira de viver a festa, de cantar, de orar e, em momentos menos bons, de chorar as amarguras da vida.

Não existem compêndios etnográficos ou etnológicos que consigam abarcar o manancial de vivências que desde há séculos são transmitidas de geração em geração, acrescentando e subtraindo pormenores, de acordo com as realidades do quotidiano e com os factores dos mais diversos âmbitos – climáticos, geomorfológicos, sociais, históricos, económicos, tecnológicos, culturais… – sobrevivendo numa adaptação contínua e numa busca constante da harmonia entre o Homem e o meio envolvente.

Cada faceta desta Terra representa uma ancestralidade que merece ser repartida com todos aqueles que procuram em Ponte de Lima aspectos genuínos e distintos de um Portugal profundo, em que a ruralidade se manifesta com toda a sua espontaneidade.

Alie-se a tudo isto, a esta paisagem natural e humanizada, uma biodiversidade riquíssima e complexa e que hoje conserva espécies consideradas raras, algumas mesmo, em vias de extinção.

Também este património é digno da admiração e, acima de tudo, da preservação, estima e cuidados repetidos por parte de todos nós.

Neste ano de 2010, em que se comemora o Ano Internacional da Biodiversidade, temos a obrigação de educar os nossos sentidos para uma atenção redobrada em relação a tudo quanto nos rodeia.

Atente-se às palavras de Gonçalo Rodrigues, Técnico Responsável pela Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos, sobre a fauna e a flora no Concelho de Ponte de Lima:

A elevada riqueza e diversidade de fauna e flora existente no Concelho de Ponte de Lima é justificada, à semelhança do que se verifica em grande parte do território nacional, por factores que se prendem com a origem natural – uma vez que se encontra no enclave de três regiões biogeográficas, recebendo influências atlânticas e mediterrâneas – e pelo desenvolvimento de actividades humanas, durante séculos, em estreita relação e harmonia com as condições naturais do meio, em especial a agricultura.

De facto a actividade agrícola contribuiu decisivamente ao longo do tempo, enquanto grande utilizadora do solo, para a transformação da paisagem concelhia e para a criação/manutenção de uma variedade de habitats semi-naturais (cujos valores e serviços ambientais determinaram a criação de espaços classificados como, por exemplo, Reserva Ecológica Nacional  cerca de 47% da área do Concelho , Rede Natura 2000 e Paisagem Protegida) que, em última análise, concorreram para uma maior diversidade de ecossistemas, com destaque para as florestas naturais de carvalhos, salgueiros, amieiros e aveleiras, os mosaicos agro-florestais à base de lameiros e carvalhais e as zonas húmidas, nomeadamente, lagoas, rios e turfeiras, que sustentam uma interessante diversidade biológica.

No que respeita à Biodiversidade Selvagem, merecem destaque por exemplo, segundo Honrado et. al, ao nível da flora, Veronica micrantha e Woodwardia radicans (listadas no Anexo II da Directiva Habitats); Genista ancistrocarpa e Rhynchospora modesti-lecennoi (citadas no Livro Vermelho da Flora Vascular Espanhola como em perigo de extinção); Radula holtii, Racomitrium lusitanicum, Ditrichum cylindricum e Bruchia vogesiaca (listadas na Lista Vermelha Ibérica e classificadas como vulneráveis); Leucobryum glaucum (listadas no Anexo V da Directiva 92/43/CEE); Cladonia rangiformis e Cladonia uncialis (listadas no Anexo V da Directiva Habitats). Ainda de acordo com os mesmos autores, no que respeita à fauna, destacam-se dezasseis espécies de aves ameaçadas, ou quase ameaçadas, a nível nacional (Livro Vermelho dos Vertebrados) e/ou internacional (Directiva Europeia das Aves). A título de exemplo, a garça-vermelha e o tartaranhão-caçador, que se encontram “Em Perigo”; o açor, o maçarico-das-rochas, o noitibó-da-europa, a ógea e o falcão-abelheiro, com estatuto “Vulnerável”. Nos vertebrados terrestres, merecem realce o lobo, espécie em perigo de extinção, a toupeira-de-água e o gato-bravo, com estatuto “Vulnerável”. No que concerne a répteis e anfíbios, o cágado-de-carapaça-estriada encontra-se “Em Perigo” e a cobra-lisa-europeia, a salamandra-lusitânica e o tritão-palmeado são espécies com estatuto de “Vulneráveis”. Relativamente à ictiofauna, o esgana-gatas encontra-se “Em Perigo”; o salmão-do-atlântico está “Criticamente Em Perigo”; a enguia-europeia e o sável “Em Perigo”; e a lampreia-marinha e a savelha com estatuto “Vulnerável”. Nos invertebrados, destacam-se Lucanus cervus e Euphydryas aurina, legalmente protegidas e ainda Rhithrodytes agnus, Lepidurus apus e Cychramus luteus.

Muitas vezes esquecida, mas não menos importante e directamente relacionada com a actividade agro-pecuária, a Biodiversidade Doméstica existente no Concelho de Ponte de Lima foi, no seu global, determinante na construção/manutenção da paisagem actual e nas dinâmicas socioeconómicas registadas durante muito tempo. No que respeita à flora, a introdução da grande diversidade de culturas hortícolas, os cereais, a oliveira, as fruteiras, a vinha e o milho, estas últimas responsáveis pela matriz agrícola Limiana, incrementaram largamente a biodiversidade local. Relativamente à fauna, convém referir o importante património genético associado às raças autóctones em presença e destacar os bovinos da raça Minhota e Barrosã, os ovinos da raça Bordaleira de EntreDouro-e-Minho, os caprinos da raça Bravia, os equinos da raça Garrana, os suínos da raça Bísara e os galináceos das raças Amarela, Pedrês Portuguesa e Preta Lusitânica.”

De que é que está à espera?

Meta-se a caminho e venha descobrir este património enriquecido pela biodiversidade ou, dito praticamente com as mesmas palavras, pela copiosa biodiversidade que caracteriza e marca a nossa paisagem.

Motivos não lhe faltam certamente.