
Nos mitos cosmogónicos das antigas culturas, a palavra caos descreve o estado primitivo a partir do qual se desenvolveu o mundo, com os seus deuses, céu, terra e homens. Nesses mitos o caos não significa perturbação, mas antes um estado de vazio ou ‘nada’, além da unidade indiferenciada de tudo.
Neste significado ancestral o caos não descreve um estado completamente perturbado, remexido, mas antes uma unidade de tudo, devidamente interiorizada.
O objectivo deste jardim é romper com o habitual significado de caos, visto como uma coisa não estruturada e misturada. Ao exibir o significado ancestral de caos, queremos surpreender os visitantes e realçar o sentido de caos como unidade e estado primitivo, indiferenciado, de tudo.
As formas totalmente diferenciadas de viver, que emergiram da unidade do caos, apresentam-se como contrapartida.
O caos representa-se no centro, rodeado da vida que emerge dele. Os dois elementos do jardim estão ligados por um percurso. Para visualizar o caos, criámos um ponto onde os limites entre os elementos típicos duma divisão – chão, paredes e tecto (céu) – se dissolvem numa massa esquiva de finos postes de madeira e se fundem para se tornarem numa maior unidade indiferenciada.
Este ponto caótico situa-se num campo de muitas espécies diferentes de gramíneas, que simbolizam a vida, diferenciada do primitivo estado e unidade do caos.
As estruturas lineares das gramíneas correspondem à linearidade da massa esquiva de finos postes de madeira, que circundam o ponto central.
O visitante entra no caminho, passando no meio de um mar de gramíneas. Ao andar, perde a ligação com o mundo exterior – a massa esquiva de postes fica mais alta e mais densa, estreitando o caminho e inclinando-se, dando a impressão de aperto e claustrofobia. O caminho contorna-se de maneira que não vemos o seu fim e não sabemos ao certo onde vai dar. No final, uma curva apertada leva-nos perante a perspectiva surpreendente dum lugar totalmente vazio onde a terra e o céu se fundem.