
Desde o aparecimento do espaço jardim que podemos associá-lo à arte, fosse ela em forma de esculturas, festões ou chafarizes, nos clássicos jardins franceses do século XVIII ou sob a forma de cascatas e grutas, na corrente naturalista do parque inglês.
Na época contemporânea a criação artística liberta-se das quatro paredes da galeria ou do museu e invade o espaço exterior. A land art, feita através de materiais da própria natureza, é disso um exemplo. Numa perspectiva mais generalista, podemos mesmo dizer que o jardim é um cenário idealizado para o teatro das nossas vidas – é nele que o homem entra em palco e vive os seus pequenos dramas e alegrias quotidianas.
A associação da arte ao jardim foi feita, neste caso, através da pintura. As telas brancas, representadas sob a forma de roupa estendida, que atravessam um qualquer jardim, servem de suporte à paleta de cores e à criatividade do artista.
Inicia-se o processo criativo. …Mas eis que o pintor se deixa inebriar e absorver pelos sons, pelos aromas, pelas formas, pelas brisas, e mergulha na paisagem. O pigmento, originalmente contido na tela, liberta-se, transborda sobre os canteiros e invade-os de arte e de cor – a arte pictórica emerge em talhões de flores coloridas.
Da pintura NO jardim, surge a pintura DO jardim.
Nada melhor do que nos transpormos para os jardins de Roberto Burle Marx e ver neles a representação das artes plástica e pictórica, executada por um mestre pintor e paisagista:“…Apliquei à própria natureza os princípios da composição plástica, em consonância com o sentimento estético da minha época. Em resumo, o jardim foi uma maneira de organizar e compor minhas obras pictóricas utilizando materiais não convencionais.
…não estabeleço diferença entre o objecto “pintura” e o objecto “paisagem” por mim construídos. São tão-somente os meios de expressão que mudam.”