
O desafio é evocar a arte no jardim convocando a ideia de transformação pela acção (in)voluntária dos visitantes do espaço.
Cultivámos um percurso à volta de uma tela branca disposta em arco (determinando o interior/exterior do espaço de vivência), área de suporte da acção de vários riscadores (lápis de diferentes cores), que registarão as vivências do espaço.
Como? A tela, à medida que a percorremos, fará crescer um “diário” do jardim, sobrepondo registos espontâneos e arbitrários, produtivamente artísticos pela acção do vento nas varetas que, munidas de marcadores nas extremidades, funcionarão como impressora eólica da intervenção dos espectadores dispostos a interagir com elas, criando, assim, o desenho do seu percurso.
Para a contemplação do processo criativo, a cada novo momento, considerámos a pausa do espectador, plantando um banco oval, na relva, do qual brota uma árvore. Este momento no percurso, oferece cheiro, som e sombra que se pretende adubem os sentidos e façam desabrochar o bem-estar. A árvore escolhida foi a Cerejeira pela cor dos seus frutos que se derramou no banco.
Porquê um material amorfo para a área específica de implantação das varetas, quando o objectivo principal desta intervenção é criar um jardim? Porquê a pedra para o sítio de onde “nascem” as varetas de aço?
Por ironia.
Afinal, a criação artística advém do conjunto de elementos agrupados nessa área, ou seja, dos elementos “não vivos” existentes na intervenção, que ganham vida porque neles se passeia a mudança, a forma mais elementar de vida do espaço.